1ª Etapa GR22 - Castelo Novo - Piodão

Chegara o dia 31 de Maio… depois de uma semana de expectativa, ansiedades e também algumas dúvidas… chegara o dia da 1ª Etapa do GR22 - Grande Rota das Aldeias Histórica em BTT… chegara o dia em que um grupo de aventureiros iria fazer a travessia entre Castelo Novo e Piódão… chegara o dia em que se inicia a saga GR22…

António Cabaço, Silvério, Carlos Sales, Luís Cabaço e eu (João Valente)… foi este o quinteto que enfrentou a beleza soberba e colossal dos trilhos que ligam estas duas aldeias históricas. Cedo começou o dia com o transporte colectivo da malta de Castelo Branco até Castelo Novo… onde tivemos a colaboração exímia do comparsa FMicaleo como motorista do dia e da carrinha Táxi que o Silvério foi desencantar lá no seu livro de contactos! A estes dois intervenientes nesta etapa… desde já o meu agradecimento pessoal e amigo… sem motorista e transporte, seria bem mais complicado, senão impossível, de levar avante tal aventura!

8:40 foi a hora em que descemos do pedestal da fotografia de grupo (Fonte junto ao Pelourinho de Castelo Novo), pegámos nas nossas fiéis companheiras (as bikes…. claro) e demos início à encruzilhada a que nos propusemos de alma e coração!

Saímos de Castelo Novo com o olhar atento às marcações oficiais do GR22… onde aqui e acolá lá iam aparecendo um tanto ou quanto escondidas ou meio desaparecidas pela agressão temporal… certamente muitas já não existem… foi o que constatamos ao longo do dia. È inviável partir para uma aventura destas a contar com as marcações no terreno, o apoio do track GPS é fundamental!! Veremos como está a sinalização nas próximas etapas… Nós iremos prevenidos!

Castelo Novo… Louriçal do Campo… São Vicente da Beira… era notória a gestão de esforço no grupo! Sabíamos que as dificuldades estavam para vir e a parte final do percurso não era nada meiga. O grupo apresentou-se muito consciencioso neste aspecto e foi de louvar o espírito de apoio que se foi vivenciando ao longo dos 94Km’s da etapa.

Fizemos uma curta paragem em São Vicente da Beira para um pequeno reforço alimentar antes de entrarmos em terrenos mais agressivos! Seguiu-se a passagem pela localidade dos Pereiros e depois Partida, onde realmente sentimos a primeira grande dificuldade do dia! Em tom de brincadeira foi considerada a GR1 (Grande Rampa número 1 do dia)… cerca de 5Km’s em agressiva subida para conquistar o Parque Eólico da Gardunha.

Foi subir ao topo do mundo… foi sentir o êxtase de não ter capacidade visual para deslindar os limites do horizonte e tamanha beleza natural. Foi também sentir… que as inclinações acentuadas iriam fazer parte (constante) do nosso dia. Os 2800 metros de acumulado não se fazem em piso rolante… e esta “GR1” veio relembrar isso mesmo!

Circulamos durante largos Km’s pelo topo da serrania… atravessando os desníveis da Serra da Gardunha, Serra do Candal e Serra da Maunça, as fontes de energia eólica foram a nossa companhia constante, o som das pás a rasgar o vento era por vezes assustador, o piso gravilhado e em constante sobe e desce endurece a trajectória da bicicleta, tornando-se um perigo eminente em descidas vertiginosas. A paisagem longínqua e montanhosa… cá do alto… essa…não tenho palavras para a caracterizar!

Tudo corria sem problemas até que a 1ª avaria mecânica surgiu! Um cabo de mudanças da bicicleta do Carlos Sales partido! “Perdidos” entre serras e ventoinhas eólicas pensei para comigo mesmo “Agora sim… estamos mesmo enrrascados!!” Single Speed nesta prova é para esquecer! Como solucionar o problema!? Há coisas inexplicáveis… e eu nunca pensaria em colocar um cabo de mudanças no Camel-bag. O Luís Cabaço tinha lá um… aquele simples cabo impediu que a aventura terminasse para o Sales e compromete-se a dos restantes companheiros! Foi um momento em que se viverem dois sentimentos contraditórios num espaço de 2 segundos… Num tudo estava acabado…e no seguinte… ainda muita aventura pela frente!!!

Com o avançar dos ponteiros do relógio, os Km’s a acumularem nas pernas, e as digitais a ficarem compostas com material ilustrativo da aventura… chegamos perto das 13:30 à aldeia das Dornelas do Zêzere onde fomos brindados com o sorriso do Rio Zêzere a serpentear montes e vales… Lindo… Muito Lindo! Em Dornelas efectuamos uma pausa (mais prolongada) para abastecimento de sólidos quentes… Almoço! Ehehehe!

O Restaurante “Os Amigos”, quase no topo da localidade (até para comer tivemos de subir e subir!!!!) foi o palco onde degustamos uma canjinha de massa e umas postas de lombo assado, com arroz branco, salada e batata frita. Glicose reposta com sobremesa à escolha e bebida… muita bebida! Os 41º graus já tinham assinalado no ciclómetro do Luís Cabaço… e a tarde ainda prometia ser quente…. bem quente!

Camel-bag’s e bidons bem repostos de água fresca partimos para os restantes km’s (sensivelmente metade da etapa). A agressividade do acumulado depressa se fez sentir com mais uma “GR” (Grande Rampa)… esta a rondar os 10Km’s de distância onde as pendentes de 28% foram registadas. Era inevitável parar por períodos, ou mesmo seguir em apeado por alguns metros afim de manter a gestão de esforço. O calor acentuado e o pós- prandial foram o nosso maior inimigo nestes penosos Km’s. Foi uma fase bem dura da etapa… onde o espírito de sacrifíco e abnegação foi posto à prova…

Passámos paralelos a São Jorge da Beira (lá ao fuuunnndo), descemos para a Aldeia de Meãs em piso rolante (um mimo!!!!), Covanca e Fórnea… onde chegámos secos… sem grandes líquidos de reserva! Valeu a humildade, simpatia e bondade de uma habitante local que nos facultou água, pedras de gelo e dois dedos de conversa… evitando assim o grupo de subir ao topo da localidade para aceder ao único café local. Estamos a falar de uma localidade perdida no meio de “nenhures”… mas onde há gente boa capaz de estender a mão para ajudar sem ter por intenção receber algo em troca! Foi um bom momento de Solidariedade!

Da Fórnea até ao destino Piódão não se passa por mais nenhuma localidade! É paisagem serrana, soberba e surreal em 360º… e comparativamente, é como ir do pé esquerdo para a orelha direita… ou seja… 100% de subida!

“A maior força do ser humano está na cabeça”… era a minha âncora, era a minha bengala para poder continuar a subir! Mas chegado ao topo… novamente com as eólicas a ganharam a altura e imponência bem perto de nós… eis que se esgueira lá bem no fundo… pequenina… entrecortada pela luz solar… o nosso destino… a nossa meta de hoje… a Aldeia Histórica do Piódão! O grupo venceu… o grupo superou-se…era ver a cara de satisfação no rosto de todos…

Até à placa toponímica do Pidoão são 3Km’s em descida de curva e contracurva… estávamos em pulgas por lá chegar! Abraçamos a placa… tirámos fotografias que a memória jamais esquecerá… foi muito bom sentir este momento! O grupo sentia que a conquista não fora nada fácil… mas tinha tido um sabor suculento.

Tínhamos o Fernando Micaleo (o motorista de hoje) à nossa espera… já “deseperado” à entrada do Piódão com as suas casas de xisto em pano de fundo! Foram quase 7 horas (tempo de andamento) a pedalar para perfazer os 94Km’s. Abraçamo-nos mutuamente… todos… o grupo… Saímos 5… chegámos 5! Isto é Espírito de Grupo!

A hora já tardia não nos deu espaço a grande contemplação da aldeia… mas ainda brindámos ao sucesso da 1ª etapa com uns sucos de cevada a acompanhar uma chouriça assada. Era tempo de regressar á cidade de Castelo Branco recordando as aventuras do dia… que dia memorável!!!
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No dia 7 de Junho vamos voltar a Piódão… é de lá que iremos sair para a 2ª Etapa do GR22, que liga Piódão a Linhares da Beira! Espero brindar no adro da igreja, com os meus colegas de etapa, um copinho de licor de castanha (tipicamente local), e partir rumo a Linhares da Beira…

Amigos…
Vêmo-nos em Linhares…


2 comentários:

  1. Boa Noite: Foi através do v/ blog que fiquei a conhecer / fotografias, a bonita aldeia de Piódão.Os meus parabéns pela v/aventura e principalmente pelas paisagens apresentadas. Abriu-me o apetite de visitar essa aldeia.
    A paixão pela bicicleta, deu-me a vantagem de vos descobrir.
    Boas pedaladas!
    josebandeira.blogspot.com

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