3ª Etapa GR22 - Linhares da Beira - Marialva

A segunda etapa desta aventura parece já ter sido à muito tempo... e na verdade passaram... apenas 15 dias! Parecia nunca mais chegar o dia de mais uma aventura com o cunho GR! Mas o dia chegou... e o dia foi hoje, 28 de Junho, dia da 3ª Etapa GR22 com a ligação entre as Aldeias Históricas de Linhares da Beira a Marialva.
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Dia de GR é dia que começa cedo... bem cedo! 6:30 e já o amigo Silvério andava nas lides de "taxista" a correr as “capelinhas” para recolher os aventureiros do dia! Na etapa de hoje voltámos a reunir o quinteto da memorável primeira etapa… AC, Silvério, Luís Cabaço, Carlos Sales e eu (João Valente).

Deixámos a cidade de Castelo Branco pelas 7:10 horas e levámos connosco para além de todo material necessário à etapa (bicicletas, camel-bags, mantimentos, etc, etc…) os nossos motoristas! Ehehehe… Na verdade… para além da dificuldade (física e psicológica) de algumas etapas… tem sido bem mais difícil equacionar a questão da logística do “motorista” inter-aldeias (!) Têm-nos valido alguns que de uma maneira ou outra apostam (também) connosco nesta aventura! O dia de hoje não foi excepção… e com uma desistência imprevista, e de última hora, dos motoristas combinados… foi mesmo o João Afonso e a sua esposa que deram o passo em frente e disseram “Contem connosco!” A eles o meu especial agradecimento pela ajuda e disponibilidade demonstrada. Muito Obrigado!

Linhares da Beira recebeu-nos já bem pertinho das 9:00… era agora tempo de aprontar as máquinas e as bagagens para a aventura de hoje! Os impermeáveis faziam parte integrante do camel-bag… pois São Pedro, a par com as previsões meteorológicas ditavam aguaceiros… mais cedo ou mais tarde!

O Café “Mimoso” ainda em Linhares acolheu-nos para o pequeno-almoço antes da partida. Não é que o dono fosse realmente “mimoso”… nós achámos mais o contrário (!)… mas lá nos safámos com umas sandes e uns cafezinhos para dar ânimo nos primeiros Km’s da etapa.

A saída de Linhares é feita desde logo com disparos orgânicos de adrenalina… uma calçada romana com sensivelmente 3Km’s em descida põe à prova os reflexos (ainda frios!) dos que por lá passam. As pedras largas e polidas são entrecortadas com socalcos de altura considerável! Para ajudar… a calçada é ladeada por vegetação algo cerrada onde as silvas predominam! Quase todos temos uma pequena recordação gravada nos braços ou pernas deste trajecto! Ehehehe!

Desde início denotamos que os primeiros Km’s da etapa estavam especialmente bem marcados com a sinalética do GR22… comparativamente com as etapas anteriores! Não se dispensa a utilização do dispositivo GPS… mas a marcação está sem dúvida bem mais conservada e visível que nas duas etapas anteriores. A par com a sinalética do GR22… foi uma constante deste trajecto os marcos do Caminho de São Tiago (Compostela)… bem mais robustos, em pedra granítica, embelezada com a agressão temporal, e com a “concha” de São Tiago esculpida na pedra. Muito Bonito!

Carrapichana e Vale Soeiro… foram as primeiras localidades que atravessámos. Latidos de cães ao longe e por vezes bem perto das nossas rodas, ainda se ouviam… mas “vivalmas” de pessoas… nem vê-las! Cafés e Restaurantes… esses só em sonhos! Estamos a pedalar no Portugal profundo e isso faz parte da aventura! Abastecimentos e autonomia é algo a que o grupo vai sempre (bem) preparado!

Com cerca de 20 suaves Km’s cruzámos uma das bonitas paisagens do dia. O Rio Mondego no seu máximo esplendor. O caudal tranquilo formava um bonito espelho de água… onde a vegetação envolvente lhe dá um toque digno de registo fotográfico! Foi após a travessia do açude que optámos por fazer uma pausa e degustar a “Angelica” que o Luís Cabaço transportava no seu camel-bag. Angelica??? Pois… Para quem não sabe… uma jeropiga daquela que faz torcer a orelha e pedir por mais! Ehehehe! Foi um espectáculo! Mais houvesse… mais se bebia! Excelente iniciativa do Luís Cabaço!

As zonas verdejantes eram uma constante e o terreno continuava plano! Passámos por baixo do tabuleiro da A25 e da Linha de Caminho de Ferro ainda com o rio Mondego à nossa direita a fazer-nos companhia por mais alguns Km’s! Searas, hortas de cultivo, casas de pedra abandonadas, outras nem tanto… e até espantalhos, tivemos como paisagem! As sinaléticas GR22 continuavam na nossa companhia…. até nos locais mais inesperados! Eu estava surpreendido!

Aldeia Nova, foi a localidade que marcou a transição entre a zona mais suave e a zona mais “agressiva” da etapa! A altimetria mudou para ascendente, o piso deixou de ser rolante e passou a ser técnico qb com areão e muita pedra… e para ajudar, S.Pedro prometera, S. Pedro cumpria… chuva, daquela que molha a sério! Foram 15Km’s que percorremos dentro de um vale, em subida, para atingirmos a aldeia Venda do Cepo!

A paisagem dentro do vale era magnífica! À direita rochas enormes entrecortadas pela vegetação estival… à esquerda… a mesma coisa! Afinal estávamos num vale! Ehehehe! Ainda fomos ultrapassados por uma comitiva de motociclistas… pouco ordeiros… que deixaram o caminho ainda mais solto! Chegámos a Vale do Cepo perto das 12:30 e… molhadinhos… prontos a torcer! Parecia que estávamos no GB (Grande Banho) em vez do GR (Grande Rota)…

Com 50 Km’s já percorridos e cerca de 20 para Marialva fizemos uma pausa (mais abrigada) para um abastecimento mais sólido! São Pedro a pouco e pouco deu tréguas e o temporal deu lugar ao céu mais limpo e mesmo a fazer-se sentir uma pontinha de calor! Parecia um clima tropical… em Portugal profundo!

A pouco e pouco começa a avistar-se Trancoso, outra localidade que integrou recentemente o Grupo das Aldeias Históricas de Portugal. O GR22 foi traçado anteriormente a esta integração, não passando por isso dentro da localidade de Trancoso. Apesar disso avista-se ao longe… seguindo o trajecto para as localidades de Castaide e Moreirinhas… onde o amigo Silvério entendeu e aprendeu o que é um Pinheiro. “O que é isso? É um Pinheiro!” Privet Joke… só quem lá esteve é que consegue entender o hilariante da situação! Eheheh!

Já com o relógio a passar das 14horas…e a menos de 10Km’s do destino… começa a visualizar-se lá longe o Castelo de Marialva… no topo do maciço rochoso que lhe serve de base! Já se sentia no grupo aquele ânimo e sabor a mais uma etapa conquistada!

É em pouco tempo que se entra nas imediações da vila… ainda distantes (em altura) da “cidadela” despovoada que se encontra no interior das ruínas do castelo medieval de Marialva. Para lá chegar… é subir algumas centenas de metros com a canícula já a fazer transpirar. Em redor do castelo… o grupo dispersou-se… cada um a tentar descobrir um novo cantinho cheio de história e beleza! Fotografia aqui e fotografia acolá… Marialva é uma bonita aldeia história!

Pouco tempo depois… e como que tivéssemos combinado um encontro à pontualidade britânica… João Afonso e esposa… caminham calmamente para um cumprimento de felicitação ao grupo, por mais uma etapa vencida! Faltava a fotografia de grupo… em plenas escadinhas de acesso à porta medieval… sensação de “dever” cumprido com satisfação… estava estampado na cara de todos nós!

A 3ªEtapa - Linhares da Beira - Marialva estava concluída… provavelmente a mais fácil (ou menos difícil) de todas as 7 etapas… para a semana há mais aventura… e mais aldeias históricas…

Amigos… até Castelo Mendo…
Portem-se à altura!


2ª Etapa GR22 - Piodão - Linhares da Beira

Isto de “Espírito de Grupo” tem lá que se lhe diga… Para que uns usufruam das belezas da etapa… tem de haver por trás a “logística” que a isso possibilita! E esta semana… a coisa não estava nada fácil de se orientar! Valeu-nos o “Espírito de Entreajuda” da Dª Maria João e Daniela (esposa e filha do AC) e do Amigo Fidalgo que entre ambos possibilitaram, respectivamente, o transporte até à aldeia do Piódão e o resgate na aldeia de Linhares da Beira. A eles devo tecer o meu sincero agradecimento pela disponibilidade que dispensaram do seu tempo para ajudar a que esta aventura do GR22 vá avante…
. Se chegar ao Piódão (1ª Etapa) em BTT é um pequeno “tormento”… posso dizer-vos que chegar ao Piódão em veículo de 4 rodas, vulgo automóvel… o tormento é quase igual!! São Km’s e Km’s agonizantes de curva e contra-curva… Chegar lá é já, por si só, uma aventura!

A equipa para esta 2ª etapa do GR22 era composta por três elementos: AC, Silvério e eu (João Valente). Com muita pena minha não pudemos contar com a presença dos camaradas Luís Cabaço e Carlos Sales! Vocês não imaginam o que perderam amigos…

Apeámos na aldeia do Piódão às 8:45, onde tentámos restabelecer o “equilíbrio” corporal após os inúmeros e tormentosos Km’s e curvas do degradado asfalto que liga Vide a Piodão. Valeu para isso a aragem fresquinha que se fazia sentir e um cafézinho quente numa das lojinhas típicas da praça principal. Era tempo de preparar as “gingas” e as “albardas” para o início da 2ª Etapa do GR22 que faz a ligação entre Piódão e Linhares da Beira.

Após a típica fotografia de grupo inicial demos início à pedalada pelas 9:10. Iniciamos desde logo com subida ou não ficasse Piódão num vale bem profundo! À medida que íamos subindo o aglomerado de casinhas xistosas acantonadas ia ficando cada vez mais pequenino… mais pequenino até que uma viragem à esquerda dita a despedida desta aldeia histórica… e dá as boas vindas a uma paisagem montanhosa e verdejante a perder de vista… onde o nevoeiro matinal lhe configura um certo misticismo. Muito Bonito…

Quanto a nós… prosseguíamos em ligeira subida já em trilho térreo… em conversas pegadas sobre isto e sobre aquilo… até sobre novos projectos em 2 rodas! Completamente embrenhados na conversa e na paisagem que nos envolvia… quem se lembra de GPS’s???? Pois é… ditou uma viragem de 180º e um retrocesso de cerca de 1km para trás! Ehehehe… faz parte da aventura!

Do alto e com alcance da paisagem longínqua descemos “ravina” abaixo em piso repleto de pedra solta… a exigir a fiabilidade dos travões… até à povoação de Vide! Ainda à pouco aqui tínhamos passado de carro meio agoniados… agora passávamos em BTT cheios de boa disposição… Ehehehe!

Quem muito desce… muito terá de subir! Os 2400 metros de acumulado que se previam para esta etapa foram essencialmente feitos na primeira metade e para isso muito contribui a GR (Granda Rampa) da “Marroquinha”! Lembram-se companheiros!?!?!? A GR da Marroquinha… tal como o nome indica inicia-se no lugarejo da Marroquinha onde se começa com uma subida íngreme e praticamente não ciclável nos primeiros 300-400 metros pelas regueiras provocadas pelas chuvas dos dias anteriores... embrenhado-se depois pela vasta área de pinhal e vegetação cerrada em largos Km’s… até bem perto da Srª do Livramento… onde fizemos uma ligeira pausa para restabelecimento de forças! Vejam a fotografia do Silvério! Ehehehehe!

Daqui ainda se continua em altimetria ascendente por alguns Km’s até se começar a visualizar a paisagem vasta do complexo rochoso que bem caracteriza a Serra da Estrela… estamos em pleno Parque Natural da Serra da Estrela e daqui em diante espera-nos um troço asfáltico de cerca de 10Km’s até á Lagoa Comprida. Apesar de ser em asfalto é dos momentos mais sofridos do percurso onde se atingem pendentes de 14% em vários troços. Foi um apelo ao espírito de sacrifício!!! As paragens foram muito breves pois o frio que se fazia sentir era gélido e os manguitos tinham ficado no Piódão! Eheheh!

Vislumbrar entre o nevoeiro a Lagoa Comprida foi uma boa sensação… e a descida até lá foi arrepiante de frio, de velocidade e de satisfação por não estarmos a subir! Parámos para uma fotografia de grupo e depressa seguimos serra abaixo… em descida gélida para passarmos ao lado da negra Lagoa do Covão Cimeiro, cortanto mais abaixo à direita para entramos num trilho que possui à esquerda um canal de água por vários Km’s e à direita uma vista estrondosa pelo vale onde se vislumbram a longa distância pequenas povoações circundadas pelas cores primaveris. Muito Bonito!

Este canal de água acompanhou-nos até um trilho cerrado e sem qualquer manutenção onde a única hipótese foi mesmo pôr a bike às costas e aí vão eles. 50 metros do GR22 em lastimável condição… e estamos nós a falar de uma Grande Rota Internacional!!! Onde andam as autoridades a quem compete esta manutenção!? O que pensarão os estrangeiros que iniciam o GR22?? Mais uma vez… e tal como na 1ª Etapa… as marcações são muito escassas e apagadas pelo tempo na sua grande maioria!!! Uma pena!!! Uma vergonha para nós portugueses!

Após o “trilho pedestre” passámos a Barragem do Lagoacho e uns Km’s mais à frente entrámos no Vale do Rossim onde se encontra a Barragem com a mesma nomenclatura. Àgua e Rocha… um contraste muito bonito e diferente! Entre as duas barragens efectuamos uma pausa para abastecimento (eram 13horas) onde com 50Km’s já ultrapassávamos os 1800 de acumulado e muita beleza… mas o melhor estava ainda para vir!!

Entrámos na zona mais bonita do GR22 (é só a minha opinião!)… um trilho que sobe progressivamente até atingir o Marco Geodésico de São Pedro e respectivo Posto de Vigia… onde somos acompanhados de ambos os lados do trilho (único) de terra escura por vastos mantos de vegetação primaveril, onde as cores verde, amarelo e roxo se fundem numa cinestesia brutal! Foi para mim o momento mais alto do GR22 até aqui! Aconselho vivamente a darem uma vista de olhos na galeria fotográfica…. Vale a pena! Neste troço fomos “brindados” com a queda de alguns chuviscos que fizeram ainda o AC sacar o seu “chubasquero” de protecção!

Do Marco Geodésico inicia-se uma descida longa, técnica e com diversos perigos à espreita (buracos, pedras, raízes)… com uma envolvência natural estupenda! Predomina a árvore de copa alta e o verde na base a estender-se por entre o aglomerado de árvores! Lindo mesmo! A descida culmina num cruzamento onde se aglomera várias sinaléticas: Casal da Pias, Faraós, Sepultura (?!?!?!?), S.Tiago, e uma do GR22, que orienta Linhares da Beira a 15,9 Km’s.

Entrámos em piso rolante já com o Folgosinho à vista no horizonte e ainda a cerca de 10Km’s do fim da etapa já se avista o nosso objectivo… as torres do Castelo de Linhares da Beira. São cerca de 7Km’s rolantes e depois em descida tipo zig-zag até ao fundo do vale… para entrar no single-track final, longo (3Km’s) e algo técnico que em subida constante nos leva até ao interior da aldeia história da Linhares. Este single-track constitui a cereja em cima do bolo depois de uma etapa fabulosa… pena termos sido pulverizados com chuva divina nestes últimos Km’s!

Chegámos a Linhares… com a chuva a molhar já a sério… encontrando abrigo junto às muralhas do Castelo no Clube dos Amigos de Linhares… que deram jus ao nome e nos preparam uma chouriça assada, queijo, presunto e pão, mesmo não tendo estes produtos para venda ao público! Simpatia desta… só mesmo em lugares como estes!

O Amigo Fidalgo (o homem que nos levou de regresso a Castelo Branco) chegou pouco depois acompanhado do filho João… digamos que chegou na altura exacta, acabando por se juntar ao grupo e saborear as iguarias locais, e rir-se um pouco com as aventuras e desventuras vividas ao longo do dia!

A fotografia de grupo com as muralhas em pano de fundo (agora já sem chuva e com as barrigas mais aconchegadas), ditou o final desta soberba e estupenda etapa que ligou Piódão a Linhares da Beira em 86Km’s de distância. A próxima etapa irá realizar-se no dia 28 de Junho… estou ansioso por esse dia. Irá ligar as aldeias históricas de Linhares a Marialva… assim sendo é caso para dizer…

Amigos…Vêmo-nos em Marialva…


1ª Etapa GR22 - Castelo Novo - Piodão

Chegara o dia 31 de Maio… depois de uma semana de expectativa, ansiedades e também algumas dúvidas… chegara o dia da 1ª Etapa do GR22 - Grande Rota das Aldeias Histórica em BTT… chegara o dia em que um grupo de aventureiros iria fazer a travessia entre Castelo Novo e Piódão… chegara o dia em que se inicia a saga GR22…

António Cabaço, Silvério, Carlos Sales, Luís Cabaço e eu (João Valente)… foi este o quinteto que enfrentou a beleza soberba e colossal dos trilhos que ligam estas duas aldeias históricas. Cedo começou o dia com o transporte colectivo da malta de Castelo Branco até Castelo Novo… onde tivemos a colaboração exímia do comparsa FMicaleo como motorista do dia e da carrinha Táxi que o Silvério foi desencantar lá no seu livro de contactos! A estes dois intervenientes nesta etapa… desde já o meu agradecimento pessoal e amigo… sem motorista e transporte, seria bem mais complicado, senão impossível, de levar avante tal aventura!

8:40 foi a hora em que descemos do pedestal da fotografia de grupo (Fonte junto ao Pelourinho de Castelo Novo), pegámos nas nossas fiéis companheiras (as bikes…. claro) e demos início à encruzilhada a que nos propusemos de alma e coração!

Saímos de Castelo Novo com o olhar atento às marcações oficiais do GR22… onde aqui e acolá lá iam aparecendo um tanto ou quanto escondidas ou meio desaparecidas pela agressão temporal… certamente muitas já não existem… foi o que constatamos ao longo do dia. È inviável partir para uma aventura destas a contar com as marcações no terreno, o apoio do track GPS é fundamental!! Veremos como está a sinalização nas próximas etapas… Nós iremos prevenidos!

Castelo Novo… Louriçal do Campo… São Vicente da Beira… era notória a gestão de esforço no grupo! Sabíamos que as dificuldades estavam para vir e a parte final do percurso não era nada meiga. O grupo apresentou-se muito consciencioso neste aspecto e foi de louvar o espírito de apoio que se foi vivenciando ao longo dos 94Km’s da etapa.

Fizemos uma curta paragem em São Vicente da Beira para um pequeno reforço alimentar antes de entrarmos em terrenos mais agressivos! Seguiu-se a passagem pela localidade dos Pereiros e depois Partida, onde realmente sentimos a primeira grande dificuldade do dia! Em tom de brincadeira foi considerada a GR1 (Grande Rampa número 1 do dia)… cerca de 5Km’s em agressiva subida para conquistar o Parque Eólico da Gardunha.

Foi subir ao topo do mundo… foi sentir o êxtase de não ter capacidade visual para deslindar os limites do horizonte e tamanha beleza natural. Foi também sentir… que as inclinações acentuadas iriam fazer parte (constante) do nosso dia. Os 2800 metros de acumulado não se fazem em piso rolante… e esta “GR1” veio relembrar isso mesmo!

Circulamos durante largos Km’s pelo topo da serrania… atravessando os desníveis da Serra da Gardunha, Serra do Candal e Serra da Maunça, as fontes de energia eólica foram a nossa companhia constante, o som das pás a rasgar o vento era por vezes assustador, o piso gravilhado e em constante sobe e desce endurece a trajectória da bicicleta, tornando-se um perigo eminente em descidas vertiginosas. A paisagem longínqua e montanhosa… cá do alto… essa…não tenho palavras para a caracterizar!

Tudo corria sem problemas até que a 1ª avaria mecânica surgiu! Um cabo de mudanças da bicicleta do Carlos Sales partido! “Perdidos” entre serras e ventoinhas eólicas pensei para comigo mesmo “Agora sim… estamos mesmo enrrascados!!” Single Speed nesta prova é para esquecer! Como solucionar o problema!? Há coisas inexplicáveis… e eu nunca pensaria em colocar um cabo de mudanças no Camel-bag. O Luís Cabaço tinha lá um… aquele simples cabo impediu que a aventura terminasse para o Sales e compromete-se a dos restantes companheiros! Foi um momento em que se viverem dois sentimentos contraditórios num espaço de 2 segundos… Num tudo estava acabado…e no seguinte… ainda muita aventura pela frente!!!

Com o avançar dos ponteiros do relógio, os Km’s a acumularem nas pernas, e as digitais a ficarem compostas com material ilustrativo da aventura… chegamos perto das 13:30 à aldeia das Dornelas do Zêzere onde fomos brindados com o sorriso do Rio Zêzere a serpentear montes e vales… Lindo… Muito Lindo! Em Dornelas efectuamos uma pausa (mais prolongada) para abastecimento de sólidos quentes… Almoço! Ehehehe!

O Restaurante “Os Amigos”, quase no topo da localidade (até para comer tivemos de subir e subir!!!!) foi o palco onde degustamos uma canjinha de massa e umas postas de lombo assado, com arroz branco, salada e batata frita. Glicose reposta com sobremesa à escolha e bebida… muita bebida! Os 41º graus já tinham assinalado no ciclómetro do Luís Cabaço… e a tarde ainda prometia ser quente…. bem quente!

Camel-bag’s e bidons bem repostos de água fresca partimos para os restantes km’s (sensivelmente metade da etapa). A agressividade do acumulado depressa se fez sentir com mais uma “GR” (Grande Rampa)… esta a rondar os 10Km’s de distância onde as pendentes de 28% foram registadas. Era inevitável parar por períodos, ou mesmo seguir em apeado por alguns metros afim de manter a gestão de esforço. O calor acentuado e o pós- prandial foram o nosso maior inimigo nestes penosos Km’s. Foi uma fase bem dura da etapa… onde o espírito de sacrifíco e abnegação foi posto à prova…

Passámos paralelos a São Jorge da Beira (lá ao fuuunnndo), descemos para a Aldeia de Meãs em piso rolante (um mimo!!!!), Covanca e Fórnea… onde chegámos secos… sem grandes líquidos de reserva! Valeu a humildade, simpatia e bondade de uma habitante local que nos facultou água, pedras de gelo e dois dedos de conversa… evitando assim o grupo de subir ao topo da localidade para aceder ao único café local. Estamos a falar de uma localidade perdida no meio de “nenhures”… mas onde há gente boa capaz de estender a mão para ajudar sem ter por intenção receber algo em troca! Foi um bom momento de Solidariedade!

Da Fórnea até ao destino Piódão não se passa por mais nenhuma localidade! É paisagem serrana, soberba e surreal em 360º… e comparativamente, é como ir do pé esquerdo para a orelha direita… ou seja… 100% de subida!

“A maior força do ser humano está na cabeça”… era a minha âncora, era a minha bengala para poder continuar a subir! Mas chegado ao topo… novamente com as eólicas a ganharam a altura e imponência bem perto de nós… eis que se esgueira lá bem no fundo… pequenina… entrecortada pela luz solar… o nosso destino… a nossa meta de hoje… a Aldeia Histórica do Piódão! O grupo venceu… o grupo superou-se…era ver a cara de satisfação no rosto de todos…

Até à placa toponímica do Pidoão são 3Km’s em descida de curva e contracurva… estávamos em pulgas por lá chegar! Abraçamos a placa… tirámos fotografias que a memória jamais esquecerá… foi muito bom sentir este momento! O grupo sentia que a conquista não fora nada fácil… mas tinha tido um sabor suculento.

Tínhamos o Fernando Micaleo (o motorista de hoje) à nossa espera… já “deseperado” à entrada do Piódão com as suas casas de xisto em pano de fundo! Foram quase 7 horas (tempo de andamento) a pedalar para perfazer os 94Km’s. Abraçamo-nos mutuamente… todos… o grupo… Saímos 5… chegámos 5! Isto é Espírito de Grupo!

A hora já tardia não nos deu espaço a grande contemplação da aldeia… mas ainda brindámos ao sucesso da 1ª etapa com uns sucos de cevada a acompanhar uma chouriça assada. Era tempo de regressar á cidade de Castelo Branco recordando as aventuras do dia… que dia memorável!!!
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No dia 7 de Junho vamos voltar a Piódão… é de lá que iremos sair para a 2ª Etapa do GR22, que liga Piódão a Linhares da Beira! Espero brindar no adro da igreja, com os meus colegas de etapa, um copinho de licor de castanha (tipicamente local), e partir rumo a Linhares da Beira…

Amigos…
Vêmo-nos em Linhares…